A superlotação de destinos turísticos mundialmente famosos, em que o número de visitantes chega a ultrapassar a quantidade de habitantes locais, já se tornou uma característica marcante do cenário atual do turismo global. Esse fenômeno tem gerado discussões e alertas sobre o impacto da atividade turística sobre a vida cotidiana das populações locais, bem como sobre a capacidade das infraestruturas urbanas e ambientais desses locais.
Uma análise feita pela consultoria Go2Africa utilizou dados oficiais sobre fluxo de viagens internacionais e população residente para identificar os países em que essa discrepância entre turistas e habitantes é mais evidente e preocupante. O estudo revela que, embora os números absolutos de visitantes internacionais sejam impressionantes, a verdadeira dimensão do impacto turístico se revela quando se considera a proporção entre turistas e residentes.
De acordo com o levantamento, a França ocupa o topo do ranking global de volume total de turistas, com 100 milhões de visitantes internacionais ao longo do ano, número que foi impulsionado especialmente pelos Jogos Olímpicos em Paris. Na sequência aparecem Espanha, com 94 milhões de visitantes, Estados Unidos (72,3 milhões), Itália (68,4 milhões) e Turquia (52,6 milhões).
Contudo, o estudo destaca que mais relevante do que a quantidade bruta de turistas é a intensidade com que o turismo pressiona a população local. A proporção entre turistas e habitantes mostra o real peso dessa indústria sobre os destinos e seus moradores, revelando não só possíveis gargalos na infraestrutura e serviços públicos, como também tensões sociais e culturais.
Nesse contexto, o Vaticano aparece como o destino mais impactado do mundo, com 7.709 turistas por habitante. A cidade-estado possui uma população residente de apenas 882 pessoas — a maioria membros do clero e representantes diplomáticos — e uma área total de apenas 0,44 km². Ainda assim, recebe cerca de 6,8 milhões de turistas por ano, atraídos principalmente por sua importância histórica, religiosa e cultural. Essa relação desproporcional entre visitantes e residentes torna o Vaticano um símbolo extremo da pressão turística global.
Em segundo lugar no ranking está Andorra, país encravado nos Pirineus, entre a França e a Espanha. Com apenas 82 mil habitantes, o pequeno principado atrai 9,6 milhões de turistas ao ano, o que resulta em 117 visitantes por residente. A economia local é fortemente baseada no turismo, sobretudo no setor de esportes de inverno e compras livres de impostos.
Na terceira posição aparece San Marino, com 59,7 turistas por habitante. Com uma população de 33,5 mil pessoas e dois milhões de visitantes ao ano, o pequeno país europeu também enfrenta desafios relacionados à superlotação de seu território e preservação de seu patrimônio histórico.
As ilhas caribenhas também figuram com destaque no ranking, devido principalmente ao turismo marítimo intensivo. As Bahamas, por exemplo, têm uma população de 401 mil habitantes e recebem 11,2 milhões de turistas ao ano, o que representa 27,9 visitantes por residente. Saint Kitts e Nevis, com 46 mil habitantes e 875 mil visitantes anuais, apresenta uma taxa de 19 turistas por morador. Antígua e Barbuda, com 93 mil residentes e 1,15 milhão de turistas, tem uma relação de 12,4 turistas por habitante.
Outros países e territórios que se destacam por altas taxas de turistas por morador incluem Bahrein (9,3), Mônaco (8,9), Malta (6,2), Hong Kong (6), Islândia (5,9), Croácia (5,6), Barbados (5,3), Suíça (4,8) e Granada (4,3). Esses dados reforçam como a presença massiva de visitantes pode afetar tanto grandes centros urbanos quanto pequenos países ou ilhas.
A seguir, a tabela com os dados completos do levantamento:
País | População | Número de Turistas | Turistas por Habitante |
Vaticano | 882 | 6.800.000 | 7.709 |
Andorra | 82.000 | 9.600.000 | 117 |
San Marino | 33.500 | 2.000.000 | 59,7 |
Bahamas | 401.000 | 11.200.000 | 27,9 |
São Cristóvão e Nevis | 46.000 | 875.000 | 19 |
Antígua e Barbuda | 93.000 | 1.150.000 | 12,4 |
Bahrein | 1.600.000 | 14.900.000 | 9,3 |
Mônaco | 38.000 | 340.000 | 8,9 |
Malta | 563.000 | 3.500.000 | 6,2 |
Hong Kong | 7.400.000 | 44.500.000 | 6 |
Islândia | 393.000 | 2.300.000 | 5,9 |
Croácia | 3.800.000 | 21.300.000 | 5,6 |
Barbados | 282.000 | 1.500.000 | 5,3 |
Suíça | 8.900.000 | 42.800.000 | 4,8 |
Granada | 117.000 | 504.000 | 4,3 |
A conclusão do estudo aponta para um alerta crescente sobre os efeitos da “turistificação” de determinados destinos. Além da sobrecarga dos serviços públicos, o aumento constante do turismo pode levar à degradação ambiental, gentrificação, aumento do custo de vida para os residentes locais e perda da autenticidade cultural. Por isso, cada vez mais países e cidades estão adotando políticas de controle de fluxo turístico, buscando promover um turismo mais sustentável e equilibrado. Ao mesmo tempo, cresce também o interesse por destinos menos conhecidos e explorados, em busca de experiências autênticas e menor impacto coletivo.
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